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CORONAVÍRUS: Uso de máscaras durante a pandemia pode causar falta de ar? Checamos!
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Postagens sobre o tema foram compartilhadas milhares de vezes nas redes sociais
Rio – “O uso prolongado da máscara produz hipóxia”, sustentam várias publicações nas redes sociais, referindo-se à falta de oxigênio no organismo. As postagens foram compartilhadas milhares de vezes no início deste mês de maio, em meio à emergência gerada pelo novo coronavírus. Segundo especialistas consultados pela AFP, contudo, as máscaras de proteção não bloqueiam a passagem do oxigênio.
Essa alegação foi replicada no Twitter em português e também em outros idiomas, como espanhol, inglês e francês, além de ter sido enviada ao número de WhatsApp do AFP Checamos para ser verificada.
“É recomendável usá-lo apenas se você tiver alguém na frente ou muito próximo, e é importante lembrar de levantá-lo a cada 10 minutos para continuar se sentindo saudável [sic]”, continua a mensagem.
A hipóxia é “a falta de oxigênio sobre um tecido específico. Pode existir hipóxia cerebral, muscular, renal, pulmonar, etc.”, explicou em conversa por telefone com a AFP o médico Emilio Herrera, acadêmico do programa de Fisiopatologia da Universidade do Chile e especialista em hipóxia.
Herrera descartou que o uso de máscaras de proteção pudesse resultar nesta falta de oxigênio. “É impossível que gere hipóxia. Para isso teria que ser uma máscara selada em toda a nossa pele. O que as máscaras limitam é a passagem das moléculas maiores”.
O médico acrescentou que as máscaras permitem a troca de ar e que no espaço existente entre ela e o rosto não há acúmulo de dióxido de carbono, como afirmam as postagens virais.
O docente de Políticas de Saúde da Universidade Austral do Chile, Claudio Méndez, por sua vez, descartou que o uso de máscaras cause hipóxia, pois o material permite a troca de ar. No caso específico das máscaras de proteção utilizadas pelos profissionais da saúde, o uso do modelo “N95 não costuma ultrapassar as sete horas. No caso das máscaras cirúrgicas, são usadas por menos tempo. Ambas estão longe de causar hipóxia”.
Méndez detalhou os efeitos gerados pela hipóxia no corpo humano: “Pode levar a desmaios, desorientação, problemas de coordenação, alterar o ritmo cardíaco. Pode afetar severamente a fisiologia normal de um ser humano”.
A publicação viralizada também assegura que o uso de máscaras pelas pessoas que atendem o público por oito horas seguidas é “contraproducente” porque “estão se intoxicando sem saber”.
Sobre isso, o médico Méndez explicou que as equipes de saúde não devem usá-las por mais de sete horas, mas por outro motivo que não tem relação com a hipóxia: “A vida útil de uma máscara não é de mais de sete horas porque já esteve muito tempo exposta ao vírus e perdeu a sua eficácia”.
“Até o momento, as máscaras N95 – ou as simples – são feitas a fim de não alterarem as funções fisiológicas das pessoas”, acrescentou Méndez.
Troca a cada 10 minutos?
A publicação viral nas redes sociais também recomenda que as pessoas levantem as máscaras a cada 10 minutos para que continuem se sentindo “saudáveis”.
A respeito dessa afirmação, no âmbito da pandemia pelo novo coronavírus, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda, ao contrário, que as pessoas não fiquem tocando nas máscaras: “Se o fizer, higienize as mãos com um desinfetante à base de álcool, ou com água e sabão”.
Méndez também desconsiderou esta afirmação de levantar as máscaras a cada 10 minutos: “Quanto mais você tira a máscara, maior é o risco de contaminação”. O médico Emilio Herrera, da Universidade do Chile, concordou: “Cirurgias longuíssimas são feitas e o médico não precisa ficar tirando a máscara”.
A OMS não menciona que as máscaras possam provocar hipóxia. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos tampouco adverte que este seja um efeito colateral do uso prolongado das máscaras de proteção.
Em resumo, é falso que o uso das máscaras possa provocar hipóxia, ou falta de oxigênio. O seu uso prolongado, explicaram especialistas, deve ser evitado nos recintos de saúde pois após a exposição ao vírus perdem a sua eficácia, mas não pela falta de oxigênio causada.